Por Daniel Luiz Miranda / Fotos de Renata Larroyd
Está em pré-venda, até o dia 28 de junho, o livro de estreia do escritor Nathan Ams Argenta, “A noite em que ganhei um aforismo”, que apresenta uma série de sete narrativas, em forma de conto, sobre distintos olhares da vida cotidiana e têm o sonho como seu fio condutor, presente direta e indiretamente ao longo da obra.
Gaúcho, Nathan tem 33 anos e ou a maior parte da sua vida adulta, entre idas e vindas, em Florianópolis, onde vive hoje com a arquiteta Fernanda Polidoro Muller, de mesma idade, em um apartamento no centro da cidade. Formado em Jornalismo e moldado pelo ofício das traduções e redações de editoras, por onde fez carreira, a leitura está na vida do autor desde os primeiros anos e a escrita se tornou uma extensão da paixão na primeira infância.
Em qualquer rápida conversa com Nathan é possível perceber que a literatura faz parte do seu DNA. Citações e nomes, que vão de Erasmo de Roterdã à Natalia Ginzburg, ou Michel de Montaigne à Ana Martins Marques, frequentemente surgem na conversa de forma natural e risonha, entre goles em um café de sua escolha, no centro de Florianópolis. A expectativa pelo nascimento do seu primeiro livro e os planos para o evento de lançamento são motivo de risadas, mas resquícios de tensão.
“Já foi pior (risos). Foram nove anos entre o primeiro e o último, seleção de quais entram e quais ficam de fora, leituras críticas, opiniões, revisões, reuniões com a editora etc. Hoje, com tudo pronto e prestes a tomar forma, é uma ansiedade boa. A vontade de ver essa história materializada”, brinca o autor.
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Infância e primeiros contatos com a leitura
Nathan Ams Argenta, nascido em Erechim, no Rio Grande do Sul, viveu uma infância tranquila e cheia de simplicidade, cercado pelo carinho da família e pelas brincadeiras na rua com amigos e primos. Entre as atividades preferidas da infância, jogar bola ocupava um lugar especial. O futebol, mais do que uma brincadeira, era um sonho que ele alimentava desde cedo.
A paixão pela escrita de Nathan foi um desdobramento natural de sua paixão como leitor. Ele lembra com carinho de um presente marcante recebido por volta dos três anos: livros de pano, que tornavam a leitura uma experiência sensorial. A surpresa veio do pai de sua madrinha, um vendedor de livros, e deixou uma impressão duradoura no futuro autor.
Um de seus primeiros contatos com a leitura constante, já um pouco mais velho, foi através da Revista Placar, uma publicação mensal com informações completas sobre o futebol nacional. Seu pai assinava a revista para ele desde os sete anos, despertando nele não só o amor pelo esporte, mas também pelo universo das palavras.
“Eu sempre dizia que, quando crescesse, seria jogador de futebol e escritor. As duas coisas caminhavam juntas. Acho que dessa paixão pela leitura, nasceu o desejo de escrever, de não apenas ler, mas também contar histórias”, explica.
A mãe, que foi bibliotecária por anos, também teve impacto positivo na criação de um ávido leitor, fazendo a “curadoria” das obras a serem lidas por Nathan em sua infância. Segundo conta, não eram todos os títulos que podiam ser ados sem filtro, sobretudo aqueles escritos por autores mais adultos.
“Eu gostava muito do Veríssimo. Minha mãe trabalhou muito tempo em biblioteca e selecionava as crônicas que eu podia ler. Eu lembro da primeira vez que ela me deixou ler ‘Comédias da Vida Privada’. Eu queria muito ler, porque tinha já visto uma ou outra coisa. Foi o livro que me levou a escrever. Eu acho que quase todos os escritores da nossa geração, em algum momento, imitaram o Luís Fernando Veríssimo. É um texto muito saboroso, ível e que é aparentemente simples, mas que a gente sabe que de simples não têm nada”, confessa Nathan.
Aos nove anos, sua família se mudou para Porto Velho, capital de Rondônia, por uma demanda de trabalho do pai. Foi lá onde viveu até os dezesseis anos. Posteriormente, Nathan ingressou na Universidade Federal de Santa Catarina, onde se formou em Jornalismo. Após uma breve temporada em São Paulo, onde começou a moldar sua carreira, Nathan mudou-se para Montevidéu, no Uruguai. Durante os dois anos em que viveu na capital uruguaia, ele trabalhou com traduções de artigos e entrevistas esportivas, uma experiência que ampliou seu horizonte cultural e profissional. De volta ao Brasil, contribuiu com publicações da Editora Abril, em edições da Exame, Superinteressante e Galileu, na Editora Globo, além da revista latino-americana Calibán, especializada em psicanálise. Entre as demandas de tradução e o trabalho fixo no portal Domestika, era hora de colocar a seus contos para o mundo.
O autor e a obra
Hoje, aos 33 anos, Nathan Ams Argenta continua a cultivar sua paixão pela escrita e pela leitura, exercício que, segundo ele, é indispensável para a escrita. Com um background diversificado e uma vida de experiências em outros idiomas e geografias, Nathan se prepara para lançar seu primeiro livro, um conjunto de sete contos que narra, sob lentes sensíveis e distintas entre si a experiência humana, um exemplo de como as experiências da vida e as paixões pessoais podem se entrelaçar para formar um escritor autêntico e cativante.
“Eu comecei a dar atenção aos contos porque escritores que leram meus textos apontaram que eu tinha mesmo uma facilidade para as formas curtas. Também me atraiu a liberdade de experimentar que os contos proporcionam. Querendo ou não, a escrita de um romance exige a manutenção de uma estética por um caminho mais longo. Às vezes, isso tudo já saiu até do seu radar, mas você precisa continuar escrevendo. Além disso, o romance apresenta uma coerência que eu não consigo ver na vida. Os contos, pela brevidade, pela incompletude, me parecem refletir melhor a nossa experiência e também a atmosfera, o momento da escrita”, esclarece.
Escrita entre 2010 e 2019, após algumas revisões, a obra é uma seleção de sete dos contos do autor que abordam de alguma forma o sonho. Os textos possuem narradores bastante distintos entre si e que possuem uma forma muito particular de entender momentos, fatos, situações cotidianas e os afetos que fazem parte da vida. Objetos e observadores que carregam traços da vivência do próprio autor, de lugares onde ou e do acúmulo que traz na bagagem.
Muito preocupado com a construção das suas obras, Nathan não mostra seu texto a ninguém até que a primeira forma esteja finalizada. Para ele, o processo de escrita é muito íntimo e, no máximo, deve ser falado às pessoas antes de ser terminado, nunca aberto para leituras – exemplo deixado por Gabriel García Marquez, uma das suas referências literárias.
“Nunca é a forma final, né? Mas tem uma hora que você precisa desistir do texto”, conta o escritor.
Outro conselho seguido pelo autor vem de uma referência menos presente em seus escritos e leituras, mas que, segundo o próprio, mudou a sua forma de compor detalhes de suas histórias. Kazuo Ishguro, vencedor do Nobel de Literatura de 2017, usou seu discurso durante a cerimônia para propor uma reflexão que atingiria o estreante escritor brasileiro.
“Ele diz que o escritor não precisa contar tudo para o leitor. As pessoas, na vida, no cotidiano, não falam tudo o que pensam. Eu nem sou leitor dele, mas esse ponto me chamou a atenção. É como coloca o Hemingway, a ‘ponta do iceberg’. Tem muito mais no oculto, no que não se vê. O Julio Cortázar, no ‘Aulas de literatura: Berkley, 1980’, também propõe algo similar: temos que ir para os livros, como para a vida, sabendo que aquilo tudo começa muito antes da primeira página e termina muito depois da última. Por isso, gosto muito quando alguém lê um texto meu e pergunta: ‘Tá. E aí?’. Eu digo: ‘Eu que te pergunto: e aí? O que você acha que aconteceu?’. Gosto de acreditar que o leitor quer se envolver com a obra a ponto de ‘preencher’, por conta própria, os espaços deixados pelo autor”.
Quando provocado sobre a necessidade e a pretensão de dizer algo que as obras literárias geralmente carregam – e sobre o que falava o seu próprio livro – Nathan não se preocupou em ser rápido na resposta. Pensou e trouxe reflexões sobre o processo que deu forma ao texto.
“É uma pergunta difícil. Eu não sei se eu sei a resposta, mas este livro é um retrato que eu buscava muito… eu era muito jovem, entre 20 e 28 anos, e foi uma época de descobertas e absorção de referências, tentando filtrar isso tudo em uma criação artística. Penso que o livro é uma tentativa de mostrar que há uma infinidade de pessoas buscando se encontrar no mundo, do seu próprio jeito, na tentativa de darem sentido à própria existência. E são experiências muito distintas. Uns mais jovens, outro mais velhos. Uns pobres, outros ricos. Em todas as narrativas há uma tentativa de entender o que as levou até lá e o que acontece depois. Não são questões apenas do tempo presente, fatos e feitos. Um olhar para o presente com a perspectiva do ado. Pode-se dizer que é um livro nostálgico”, aprofunda.
O evento de lançamento oficial do livro ainda não tem data marcada, mas a pré-venda segue até a última sexta-feira de junho (28). Nas opções de recebimento da obra, o comprador pode escolher receber em casa ou selecionar a retirada direto com o autor
“Escrever, principalmente essa busca pela identidade como autor, é um processo que exige tatear e ter paciência. Não acho que haja uma única forma de escrever nos meus trabalhos. Uma definição taxativa. Gosto da mudança. A partir do momento que você para de mudar, você morre. Na vida e na arte”, finaliza.