Derramar letras doces sobre as linhas
é enfeitar o papel para revirar tudo.
Coração em palavras. Rabiscos da alma.
Entre o despertar e o próximo dormir,
revirar singelamente aquilo de mais vital que nos toca o ímpeto.
Eu sou a Júlia, escrevo como quem respira,
e nasci quando peguei o lápis e ei no papel.
Revira comigo?
Júlia Cavalcante de Freitas é imbitubense, nascida e criada entre as areias da Praia da Vila, o lirismo visível de suas ilhas e uma biblioteca cheia de amor.
Poeta, cantora e compositora, atriz, graduanda em Naturologia e servidora pública na área da saúde, Júlia é apaixonada pelo poder dos versos e seus enlaces com a condição humana, e considera sua escrita como essência de sua existência.
Inspirada por seu avô, o eterno e saudoso Professor Luiz Pi de Freitas, por seu pai Luiz Mário de Freitas e sua tia Renata de Freitas, em uma linha familiar cheia de poesia, a jovem poetisa continua a espalhar o encantamento das estrofes, ao honrar o sangue artístico que herdou.
Sem ponto, sem conto – entre outros sufocos letrados.
Um dia cheio. Você acorda, olhos pesados, buscando… o celular.
Ele apita na cama, embrenhado nos lençóis, perto dos pés. Whatsapp, grupos, e-mail, “nossa, ainda nem lavei o rosto”, pensa. Solta o celular. Lava o rosto. Xícara de café, “preciso acordar mais”, pega novamente o celular.
Começa a escrever. Responde o amigo antigo, querido, coitado, ficou sem resposta por 3 dias. “É que é muita correria”.
Consumindo-se de rotina, cansando as retinas, os dedos digitam rapidamente coisas longe do coração: Quem vai descongelar o frango; o prazo de entrega daquele projeto; alguma desculpa para não ir em qualquer lugar.
Ocupando-se em escrever tudo que não se quer, de fato, escrever, porém, escreve. Escreve qualquer coisa que leva em lugar nenhum. Qualquer coisa que não se sinta.
Aquela pegajosa frase, porém, não sai do fundo da cabeça. Repetindo com a sua voz, repetindo, te implorando para virar uma impressão em um papel, um início de poema, uma ideia de um conto, uma crônica… uma coluna de jornal!
Qualquer reunião de palavras de mãos dadas que te sirvam de algo mais que não seja uma repetição incessante e irritante no fundo da cabeça.
Então, pega o papel. Rabisca um pouco, suspirando pelos dedos afora o desejo primário de ser aquilo que se é: alguém que, por sobrevivência ou teimosia, escreve.
Ora te nasce um texto épico, “preciso mostrar para todo o mundo”. Ora te nasce meia estrofe vergonhosa. Por consequência, volta a pegar o celular. WhatsApp. Sem tempo, sem conto, sem ponto. Sufoca o pranto.