O verão não é uma estação, mas uma postura. Uma intenção. Ir à praia é bom, mas ir à praia durante o verão tem um sol diferente. O cheiro do mar vem com uma vibração particular.
O verão não é uma estação, mas uma postura. Uma intenção. Ir à praia é bom, mas ir à praia durante o verão tem um sol diferente. O cheiro do mar vem com uma vibração particular. Tomamos cerveja às 15h de uma terça-feira porque é verão (sempre minhas férias, já que sou professor). Parece que só no verão toda a gente pode viver a vida que realmente queria, mas não pode. E é exatamente por isso que trabalhar só estraga o verão – porque não é a estação para isso, é para ser feliz.
Dia desses fez um sol de rachar cuca na Zimba (pra quem aqui não sabe, apelido carinhoso da minha Imbituba/SC). Como acabou se tornando um costume neste verão, fui à praia. Clássica, ao melhor estilo deste verão: um vento razoável, mas não forte, para amenizar a potência do sol a pique, e um mar azul ciano de águas mornas.
À minha frente, um casal jovem, nos seus 20 e bem pouquinhos, o que cada vez mais parece ter me acontecido uma era atrás, nos primeiros meses de relacionamento. É impossível eu estar errado. Tudo era muito evidente, sorridente e mais todos os entes.
Borboletas e tulipas saltavam os olhos, ouvidos e boca dos dois após cada beijo, cada risada, experimentando o ápice da existência humana.
A paixão.
Pensei em todas as antigas e as novas, as que poderiam ter dado certo e não deram; as que tinham tudo para não funcionar, mas, de alguma forma, foram boas, porque viver a vida é um inexorável exercício de adaptação em meio às surpresas.
Ando chorão, como tenho percebido e dito. E digo sem problema. Esta é uma crônica de olhos molhados, muito também por conta do mar que tanto os banhou nos últimos meses. Mas ainda mais por serem as lágrimas de um chorão, na maioria das vezes, a testemunha principal de cenas que nos emocionam, nos apaixonam e nos fazem querer viver.
PS: Já perceberam que a sobrancelha nada mais é do que a calha para escorrer o suor da testa? A principal proteção dos olhos do careca, classe tão segregada socialmente – apesar de, aparentemente, ser dos carecas que “elas gostam mais” (saudades, carnaval). Estávamos conversando sobre isso no último sábado. Há vários sábados já que estou ficando careca, na cabeça e na consciência. Enfim, divagações.
Eu dizia dos olhos molhados. Não só os olhos. O inverno chegou. Onde reside a negação da felicidade do verão. A melancolia cinza em forma de gotas geladas. Acho que a afirmação do Crioulo sobre não haver amor em SP e a alcunha “terra da garoa” não podem ser tomadas como coincidências alheias uma à outra. Mesmo sendo tão bom amar no frio.
Não dá pra ficar saindo de casa, com dor de frio no dedão do pé, nariz vermelho e muitas roupas, para ser feliz, simpático e conhecer novas pessoas, na dança lancinante da vontade de acasalar. E é bem pior pra beber cerveja (mas ainda dá. Sempre dá, se você tiver força de vontade). Ou seja, as duas melhores coisas da nossa rápida existência terrestre são arbitrariamente prejudicadas pelo inverno.
Eu sei que essas são opiniões polêmicas, mas estou convicto que não são, de forma alguma, infundadas. Me dê uma chance e reflita honestamente sobre isso.
Contudo, se você já teve um veraneio bem sucedido, já suou, sorriu e amou com gostinho de sal, esqueça tudo que eu disse sobre o inverno e seja feliz. De preferência, ainda amando. Está aberta a temporada das conchinhas que duram todo um final de semana; maratonas de filmes e séries ruins, mas que um dos dois ama e vai fazer de tudo para o outro assistir; preguiça pra sair da cama – afinal, por que levantar às 7h para trabalhar se você poderia ficar na cama abraçadinho até às 19h? Me responda: POR QUÊ? Não sei dizer.
Meu desejo para a nova temporada que parece, de fato, ter chegado é amar. Pessoas, lugares, atividades. Nós precisamos. O mundo precisa (desesperadamente, mais do que nunca). Viver a vida com tesão. Temos essa e só essa, até onde podemos afirmar com certeza.
Em tempos de violência, intolerância, guerra, morte e incapacidade de se colocar, em exercício hipotético, no lugar do outro, independente da estação, ame.