Por Cleber Latrônico
Sete anos após a trágica morte da modelo Isadora Viana Costa, o Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJSC) finalmente marcou a data para o julgamento de Paulo Odilon Xisto Filho, oficial de cartório acusado de matar brutalmente a jovem em seu apartamento em Imbituba. A sessão de julgamento pelo Tribunal do Júri foi agendada para o dia 3 de setembro de 2025, às 8h, no Salão do Júri da Comarca de Imbituba. A decisão representa um marco importante na longa espera da família da vítima por justiça.
Paulo Xisto, que responde em liberdade desde decisão liminar concedida pelo Supremo Tribunal Federal (STF) que o tirou da prisão preventiva, será julgado por homicídio qualificado (feminicídio), fraude processual e em outro julgamento por posse ilegal de ório de uso para arma de fogo, em concurso material de crimes. O processo tramitava desde 2018 e ou por diversas fases judiciais, incluindo instrução com oitiva de mais de 30 testemunhas, diligências periciais e disputas sobre a legalidade de provas e qualificadoras.

“Depois de tanto tempo de espera, dor e todos os sentimentos próprios de um caso destes, estamos prontos para ver a justiça ser feita, fortes e com a convicção de que nosso papel de pais é importante nesta hora, pois é onde mora o amor!”, desabafa com exclusividade ao Portal AHora, o pai de Isadora, o dentista Rogério Froner Costa, .
A denúncia: do relacionamento ao crime
De acordo com a denúncia do Ministério Público de Santa Catarina (MPSC), Paulo Xisto conheceu Isadora em março de 2018, em Santa Maria (RS), e a convidou para ar um período com ele em Imbituba. A relação, conforme relataram amigas da vítima, se tornou rapidamente conturbada, marcada por episódios de agressividade por parte de Paulo, especialmente quando estava sob efeito de cocaína, remédios controlados e álcool.
Na madrugada do dia 8 de maio de 2018, após uma noite de consumo de drogas e bebidas, Paulo teria tido um surto de fúria ao saber que Isadora acionou sua irmã para ajudá-lo, acreditando que ele estivesse ando mal. Sentindo-se traído por ter seu uso de drogas exposto à família, o réu, segundo o Ministério Público, agrediu violentamente a vítima com socos, chutes e joelhadas no abdômen, causando lesões internas gravíssimas que levaram à sua morte.
O laudo cadavérico apontou trauma abdominal com laceração hepática, lesão de veia cava e hemorragia interna, compatível com agressão física de alto impacto e repetitiva. O crime teria ocorrido de forma súbita, brutal e sem chance de defesa, configurando, segundo a promotoria, um caso claro de feminicídio.
A suposta tentativa de encobrir o crime
Ainda de acordo com a investigação conduzida pela Polícia Civil, após matar Isadora, Paulo Xisto teria tentado encenar uma situação de convulsão e overdose. Ele acionou os bombeiros às 7h30 daquela manhã e espalhou cartelas de remédios controlados pelo apartamento, além de ter modificado a cena do crime, escondendo um lençol sujo de sangue e vômito sobre o qual a vítima estava deitada.
Segundo a denúncia, com a ajuda de uma amiga do réu, os dois removeram e lavaram o lençol, impedindo a perícia oficial de ar provas fundamentais para a investigação. A suposta cúmplice foi denunciada por fraude processual e, conforme relatórios, retirou do apartamento garrafas de bebida alcoólica e outros objetos, dificultando ainda mais a apuração.
Armas, drogas e órios ilegais
Durante o cumprimento de mandado de busca e apreensão na residência de Paulo, em 14 de maio de 2018, a polícia encontrou diversos vestígios de uso de cocaína, roupas manchadas de sangue, além de um arsenal com armas e munições, incluindo uma pistola Glock, uma espingarda calibre 12 e mais de 140 munições. O destaque da apreensão foi um ório de uso : uma mira a laser argentina, que resultou na acusação de posse ilegal de artefato .
Trâmite judicial: sete anos de espera
Desde a morte de Isadora, o processo ou por fases complexas. A denúncia foi recebida em julho de 2018, e a prisão preventiva de Paulo Xisto foi decretada e cumprida naquele mesmo mês. No entanto, ele foi solto em novembro do mesmo ano por determinação do então ministro Marco Aurélio Mello, do STF, hoje aposentado.
Durante a instrução, foram ouvidas 30 testemunhas de acusação e defesa, e houve intensa produção de provas técnicas por peritos do juízo e da defesa. O Ministério Público defendeu a pronúncia de Xisto por homicídio triplamente qualificado, além dos crimes conexos. A defesa tentou afastar as qualificadoras, alegando ausência de dolo e propondo versões alternativas para a morte.
Em decisão posterior, o Superior Tribunal de Justiça (STJ) determinou o desmembramento do processo no que diz respeito à posse de ório , mantendo no júri popular apenas as acusações de feminicídio e fraude processual.
Contraponto
A defesa de Paulo Odilon Xisto Filho reafirma a inocência do acusado e diz que “não existiu alteração criminosa do local onde ocorreu a morte”.
“A defesa de Paulo Odilon Xisto Filho, a cargo do Escritório Aury Lopes Jr Advogados, reafirma a inocência e acredita que os jurados de Imbituba terão serenidade para, analisando a vasta prova produzida nos autos, decidir pela absolvição. Paulo não matou Isadora. Foi uma tragédia, mas ele jamais agrediu a vítima e a prova demostra o grande erro que constitui essa acusação. Também não existiu nenhuma alteração criminosa do local onde ocorreu a morte e está provado no processo. Quanto as armas apreendidas, não guardam nenhuma relação com o fato, são todas legais e devidamente registradas, tanto que já foram restituídas.”, disse a defesa, em nota.
O que vem a seguir
No dia 18 de agosto de 2025, ocorrerá o sorteio dos jurados que irão compor o conselho de sentença. A audiência será realizada às 14h no Fórum de Imbituba. O julgamento do dia 3 de setembro, marcado para começar às 8h da manhã, promete ser um dos mais emblemáticos da história recente do município.
A expectativa é de que o caso ganhe grande repercussão pública, tanto pela brutalidade do crime quanto pela longa jornada da família de Isadora em busca de justiça. Seu pai, Rogério Froner Costa, atua como assistente de acusação desde junho de 2018.
Ao final, será o júri popular quem decidirá se Paulo Odilon Xisto Filho é culpado pelos supostos crimes que chocaram Santa Catarina em 2018 — e se, após sete anos de espera, a família de Isadora finalmente verá o desfecho judicial que tanto aguardou.
